A menstruação é um fator biológico característico de todas as mulheres. Ela chega no início da puberdade e passamos cerca de 40 anos sangrando por alguns dias, todos os meses. Levando em consideração que só no Brasil temos uma população feminina de 109,4 milhões de mulheres (IBGE, 2019) e que representamos 52% da população, a menstruação deveria ser um assunto comum. No entanto, esse assunto ainda é um tabu e está envolto por crendices e preconceitos.
A palavra menstruação, de acordo com o dicionário Dicio online, é a ação de menstruar. Menstruar vem do latim menstru, que significa “de cada mês”. Mas, mesmo sendo algo tão comum, falamos pouco sobre esse assunto. Encontrar a etimologia desta palavra, nos rendeu muito tempo de pesquisa. Além disso, cada vez que errávamos a escrita da palavra menstruação, não tínhamos a opção da palavra correta pelo corretor automático do word. Isso significa que não só falamos pouco, como também escrevemos pouco sobre a temática. E, por que isso ocorre?
Diversos fatores contribuem para que a temática da menstruação ainda seja um tabu. Tanto que evita-se falar esse nome, como se ele fosse um xingamento. Costumamos usar eufemismos para se referir ao fato de que estamos menstruadas, tais como: “estamos naqueles dias”, "Tá de chico?" ou usar apelidos como “boi”, dentre outros.
Esse silenciamento da abordagem da temática ocorre por conta da cultura machista e misógina que ainda convivemos em pleno século XXI. Num mundo cujo domínio é exercido pelo macho, a fêmea precisa ter sua potencialidade diminuída.
A forma de como educamos as crianças também nos faz entender o porque a menstruação permanece sendo um tabu. Assim, meninas são ensinadas a esconderem o estado menstrual, ao ponto de terem vergonha de serem vistas comprando absorventes. Desta forma, também é difícil se vê meninos comprando esse tipo de material de higiene, para o uso feminino, pois incutem em nossas cabeças que a menstruação é algo feio, nojento e vergonhoso.
Ainda é comum a ideia de que as mulheres ficam "impuras" durante essa fase. Podemos perceber isso, quando lembramos de algumas ideias que nos ensinaram, como por exemplo, a ideia de que não podemos fazer uma certa comida , enquanto estamos menstruadas, porque vai desandar. Também nos incutem a ideia de que a menstruação nos deixa incapazes de realizar certas atividades, como, não poder cortar o cabelo, por exemplo.
O estigma da menstruação é um tipo de misoginia. A expressão "Tá de chico?" não se refere a uma pessoa chamada Francisco. Ela veio de uma expressão de Portugal onde "chico" é sinônimo de "porco". É daí que vem a palavra "chiqueiro". Assim, é um termo que relaciona menstruação à algo nojento, apodrecido.
Tabus negativos nos condicionam a entender a função menstrual como algo que deve ser escondido, algo vergonhoso. Enquanto na realidade, é algo nobre, que faz parte do nosso processo evolutivo.
Podemos dizer que a menstruação é um rito de passagem de menina para mulher. A menarca (primeira menstruação) é uma marca de que o corpo feminino está amadurecendo e de que a mulher já pode gerar uma vida em seu ventre. Ou seja, a menstruação é algo extremamente natural. Então, por que patologizamos? Por que tratamos como se fosse uma espécie de doença crônica que precisa ser escondida?
Segundo uma pesquisa realizada pela J&J e publicada no jornal O Estadão, 57% das mulheres brasileiras, sentem-se sujas durante a menstruação e mais de 40%, ficam inseguras e pouco atraentes. Isso faz com que muitas de nós, nesse período, mudemos alguns hábitos, tipo: deixar de sair de casa, tomar banho de piscina/mar, praticar esportes, sair com alguém. E isso tudo, muito mais por uma questão cultural, do que por conta de indisposição – é claro que consideramos haver diversos transtornos de saúde ligados ao ciclo menstrual, como por exemplo, a TDPM que acomete gravemente muitas mulheres.
Precisamos conhecer o nosso próprio corpo, acolher nossa natureza e saber lidar com nossa condição biológica. Tratar a menstruação como um tabu pode levar a dificuldades na maneira como a menstruação é manejada ao longo da vida, pela menina/mulher, podendo ocorrer situações adversas relacionadas à saúde reprodutiva, a doenças e situações traumáticas.
Os homens também precisam compreender e acompanhar o ciclo menstrual da mulher, para que ele venha a ter um olhar mais naturalizado sobre isso e forneça a parceria necessária para o enfrentamento de algumas situações, ao invés de nos isolar e silenciar, sob o pretexto de que estamos agindo sob o efeito da famosa TPM – tensão pré-menstrual.
É importante ainda falar de pobreza menstrual. A situação de extrema pobreza que vive parte da população brasileira é grave, a ponto de faltar dinheiro para aquisição de produtos básicos. De acordo com a OMS, uma, em cada quatro adolescentes brasileiras (25%) não tem acesso a absorventes no período menstrual.
As adolescentes são mais vulneráveis à precariedade menstrual porque ainda não tem todas as informações e vivência sobre a importância da higiene menstrual para sua saúde e dependem de outras pessoas para a comprar o absorvente que, venhamos e convenhamos, não é um artigo tão barato e é encarado como artigo supérfluo.
É necessário lutarmos para que todas tenhamos acesso a passarmos o período menstrual com dignidade e naturalidade, sem maiores danos, perdas ou exclusões. Precisamos nos reconectar com os nossos corpos e derrubar os tabus, desmistificando as falsas ideias de que menstruar nos torna vulneráveis, sujas ou, menos capazes.
E, o movimento feminista de “As Desmedidas” está aqui pautando mais um tema, que visa nos fortalecer enquanto gênero feminino, através do autoconhecimento empoderante.
Nosso sangramento cíclico é sinônimo de força, renovação e saúde!
Avante, porque muitos ciclos de vida nos esperam...
Ellen, Paula e Rozi.
Que maravilha!!!!! Parabéns a esse importante movimento d' Asdesmedidas. Eu, como ser masculino, tiro o chapéu e aplaudo de pé à iniciativa de trazerem ao público em geral esse assunto da pauta: menstruação. Quantas colocações felizes, foram apresentadas aqui por Ellen, Paula e Rozi. O que mais me chamou a atenção foi o fato de vocês chamarem a atenção para nós homens, respeitarmos e fazermos parte dessa fase nobre das nossas mulheres, filhas ou irmãs. Parabéns, mais uma vez, pela brilhante matéria.
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