Meninos x meninas: como o machismo afeta a educação das nossas crianças

 




    A educação das novas gerações é uma atividade indispensável para a manutenção da cultura de uma sociedade, pois o papel da educação, de acordo com a sua etimologia é “direcionar para fora”, ou seja, conduzir as pessoas para viver em sociedade, transmitindo os valores e os conhecimentos selecionados como sendo necessários para aquela comunidade. 
    Por isso educamos nossos filhos e filhas, tanto em nossos lares, quanto em instituições específicas que lidam com esta tarefa da educação formal. Desta forma, a educação é uma espécie de condução para que as pessoas perpetuem aquela cultura repetindo os padrões estabelecidos há gerações. 
    Se vivemos dentro de uma cultura machista, onde vemos cotidianamente que o gênero masculino é considerado superior ao gênero feminino, a educação é também reflexo do machismo e serve para perpetuar o machismo. 
   É por isso que vemos tão comumente, que nossos filhos e filhas são tratadas (os) com graus diferenciados de exigência de conduta. Assim, meninos e meninas são incentivados a brincarem separadamente, em mundos paralelos. Meninos são ensinados a explorar o mundo com coragem, velocidade e criatividade e por isso, cabem a eles carrinhos e artes maciais, por exemplo, enquanto que as meninas são ensinadas a cuidar e a se portarem com elegância e beleza, e, por isso, brincam de bonecas, casinha e fazem ballet. Meninos são educados para não chorar, enquanto as meninas ouvem que precisam ser sensíveis e dóceis e estar sempre bonitas. 
   Esta educação que coloca em prática o meninos x meninas, faz questão de nos lembrar que esta constante diferenciação entre os gêneros (meninas vestem rosa e meninos vestem azul) precisa permanecer para manter a cultura machista que submete as mulheres, enquanto empodera os homens.
    Embora o machismo não seja ensinado enquanto conteúdo disciplinar, ele permeia toda a atividade cultural das nossas sociedades e as crianças os absorve por onde passa. As crianças percebem desde cedo que a maioria dos cuidadores são mulheres enquanto que a maioria dos cientistas são homens. Veem que a maioria das cozinheiras são mulheres, mas a maioria dos chefes de cozinha são homens. Entende que a mãe trabalha mais horas dedicadas à casa e a família, mas é o pai que é chamado de chefe da família. 
    Essas vivências cotidianas mostram as crianças que lugar de mulher é cuidando e lugar de homem é fazendo atividades específicas “de homens” como pesquisar, dirigir e prover.
   Ainda que esses padrões ensinados e socialmente construídos pareçam inofensivos, realmente não o são. Essas diferenças na educação induzem a comportamentos machistas e podem trazer consequências graves para o dia a dia de todos, mas principalmente para as mulheres. A violência contra a mulher, seja física ou psicológica, é fruto de algo estrutural e montado historicamente, perpetuado pelo ensinamento machista de pequenos atos que levam a atos maiores, o que nos leva a ver casos e mais casos de feminicídios e todo tipo de violência e abuso contra as mulheres. 
   Mas, claro, os meninos também são afetados pelo machismo e pela educação machista, ao serem tratados com frieza e impaciência, sendo obrigados a reprimir sentimentos ou demonstrar emoções e normalizando comportamentos mais agressivos e inflexíveis, com uma justificativa de que ‘são homens, então, podem”. 
    A educação familiar também repercute o machismo, pois muitas vezes, o machismo é ensinado como natural e correto, uma vez que tais comportamentos discriminatórios, entre meninas e meninos foram aprendidos por tradição. Embora a maioria das famílias não consigam nomear de machismo ou entender a ideologia cultural que faz com que as coisas sejam como elas veem e ensinam. 
   Mas, mesmo uma família atenta e esclarecida que preze por uma educação não machista, tende a repetir velhos padrões de comportamentos discriminatórios, pois toda família que se constitui não está livre de influências. A bagagem cultural que carrega seus membros vem de outras famílias que possuem ideias de formação que já foram estabelecidas ao longo da história daquela sociedade. Por isso, não é de se admirar que o machismo se perpetue em todas as esferas da sociedade. 
   Alguns pais e mães mais esclarecidos, se assustam ao perceber os filhos e filhas com falas machistas cristalizadas e se questionam como é que isso aconteceu. Mas, podem não está lembrando das próprias atitudes machistas que repercutem sem consciência, porque elas se encontram tão naturalizados no nosso cotidiano, que se tornam um hábito e repetimos os padrões de forma automática.
  Então, o que fazer para quebrar esse ciclo do machismo e desconstruir essa educação que promove desigualdade? 
   Há muito a se fazer para que aos poucos essa cultura seja desfeita. A consciência sobre o machismo é o primeiro passo para a mudança e as escolas, professoras e professores tem um importante papel para ajudar a eliminar as barreiras de gênero que se impõem às nossas crianças desde cedo. É preciso olhar para as crianças com olhar não discriminatório e ensiná-las valores comuns. 
   Nas nossas famílias é importante criar um ambiente em que os filhos e filhas possam se deparar com a realidade onde as tarefas sejam distribuídas de forma justa e sem discriminação de gênero. Dar exemplo é outra forma de educar para que o machismo não se perpetue indefinidamente. Dividir as tarefas de casa com responsabilidade para todos os membros da família, não só limpar a casa e cozinhar, mas as funções administrativas também, como fazer lista de compras, carteira de vacinação das crianças e etc...   
   Aproveite situações do cotidiano para que as crianças possam ir formando os seus conceitos e criticando a realidade, como por exemplo, assistir um filme e fazer dele uma oportunidade para falar sobre a discriminação de gênero e de como a diferença de sexo não nos diferencia enquanto seres humanos dignos de valor. Enfim, trazer o tema para as conversas em família, no sentido de superar conceitos machistas que prejudicam relacionamentos e não contribuem para uma qualidade de vida de todos e todas. 
   Se a educação é o meio de propagação do machismo, ela também é o meio que temos para ir desmontando essa teia discriminatória. O olhar crítico para a cultura machista é um exercício diário que devemos fazer para perceber o machismo implícito e explícito e então, lutarmos contra ele usando a educação como a arma mais poderosa. 

 Avante !!

                                                                                                                      Ellen, Paula e Rozi.

Comentários

  1. Perfeitamente, afirmação plausível, em se colocar que é pela educação que poderemos instruir, educar a lutar contra padrões discriminatórios. Essa questão que envolve o crescimento na formação das crianças na escola, impetrada na cultura de um ensino arcaico, vencido e que não surte mais efeito, deve ser o ponto de destaque para a educação do século XXI. Precisamos, sim, quebras as barreiras do machismo, que se perpetua ano após anos, e construirmos uma sociedade mais justa e igualitária. Parabéns, mais uma vez pela brilhante abordagem em um assunto tão pouco discutido no contexto social. Sucesso às desmedidas.

    ResponderExcluir

Postar um comentário