Sofrimento mental: por que adoecemos tanto?

 





    O mês de setembro é um período em que a temática do adoecimento mental está em evidência por conta da campanha conhecida como setembro amarelo: um mês dedicado às políticas de prevenção do suicídio. Por isso, “As Desmedidas” discute nesse texto e no programa semanal, a temática do adoecimento mental. 
  Para mostrar a relevância desta temática apresentamos abaixo, dados de pesquisa que mostram o quanto estamos adoecidas/os mentalmente. Embora as doenças mentais possam ser configuradas em diversos CID’s (Classificação Internacional de Doenças), falaremos aqui, das duas doenças mais comuns: ansiedade e depressão. 
   De acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde - OMS, A depressão é a principal causa de problemas de saúde e incapacidade em todo o mundo. Segundo as últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão. Isso representa um aumento de mais de 18% entre 2005 e 2015 (OMS, 2017). 
   Aliada à depressão, a ansiedade é encarada por especialista de saúde mental, como o mal do século. O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo. Quase 10% dos brasileiros sofrem deste mal. 
   Em se tratando do suicídio, desenvolvi em 2018, um projeto de pesquisa financiado pelo IFAL, Campus Arapiraca e chegamos à conclusão de que Arapiraca é uma das cidades com o maior índice de suicídio do país. A cidade de Arapiraca está 100% acima da média nacional de suicídio por 100 mil habitantes. A média nacional é 5,01 óbitos/100 mil pessoas. Em Arapiraca tem-se 10,98 óbitos /100 mil pessoas. Esta média arapiraquense está acima da média de cidades como São Paulo (4,70 óbitos/100 mil pessoas) e Porto Alegre (7,63 óbitos/100 mil pessoas) que é a cidade que tem o maior registro de pessoas que sofrem de depressão no Brasil (deepask.com, 2013). Em oito anos – 2006 a 2013 – 139 pessoas tiraram sua própria vida no município de Arapiraca. O que dá uma média de 17 suicídios por ano. Mas, mais instigante do que o número de pessoas que consegue tirar a própria vida é o número daquelas que tentam, mas não conseguem. Em 7 anos - 2009 a 2016 - foram 1886 tentativas. O que dá uma média de 235,7 tentativas por ano. 
    Esse número reflete apenas os casos atendido pela Unidade de Emergência - U.E - em Arapiraca. Estes dados alarmantes apresentados acima demonstram o quanto é importante falarmos a respeito da temática do adoecimento mental, pois existe muita gente com sofrimento psíquico. 
    Mas é importante separarmos o sofrimento psíquico fruto de um adoecimento mental, dos sofrimentos psíquicos comuns à vivência humana. Comumente, vivenciamos dilemas frutos da estrutura dinâmica da nossa personalidade. Somos seres muito complexos, pois somos ao mesmo tempo seres de razão, emoção, sentimentos, instintos... Somos contínuas desconstruções e reconstruções e vivemos constantes dilemas: Fazemos o que não queremos e não fazemos o que queremos. Dizemos uma coisa e pensamos e fazemos outra. Agimos de uma forma e pensamos de outra.nNos comportamos de algumas formas e nem nos reconheçemos ou, não reconhecemos o outro/a e nos perguntamos, como fomos capazes? Nós mudamos o tempo inteiro: corpo, ideias... Performatizamos. Agimos sem saber porquê e nem paramos pra pensar o quanto o ser humano é complicado. Temos que lidar com muitas contradições, tensões, conflitos, angústias... 
    Para nós, mulheres, os dilemas são ainda mais evidentes. Vivemos contínuos paradoxos entre o que esperam de nós e o que realmente somos. Temos que dar conta de número bem maior de atividades do que muitos homens. Somos consideradas o sexo frágil, mas nos exigem que tenhamos forças para sermos o esteio da casa e, que resolvamos os tantos problemas. Esperam de nós que sejamos os pescoços que sustentam as cabeças (que seriam os maridos e seus tantos problemas). Muitas vezes, esperam de nós que sejamos as administradoras do lar, as educadoras, as psicólogas, as faxineiras, as motoristas, professoras e que ainda tenhamos nossa profissão. E, que tempo temos para pensar nossa existência? 
    Somos seres que podemos pensar a nossa própria condição, não apenas, simplesmente, vivê-la. Muito adoecimento mental pode ser evitado se pararmos para pensar o nosso sentido existencial e os rumos da nossa existência e travarmos batalhas para nos livrarmos de falsas ideias e comportamentos que comprometem nossa saúde mental.
   Mas, muitas de nós não temos tempo para pensar sobre nós mesmas. E às vezes, só percebemos da importância de pensar sobre nós mesmas, quando adoecemos e quando temos que nos afastar das nossas funções. 
    Entretanto, como saber se os dilemas que enfrentamos são frutos de adoecimento mental e não apenas frutos das vicissitudes da vida e do ser humano? Quando não existirem motivos aparentemente reais para o sofrimento (está passando por um luto por exemplo), quando funções biológicas como o sono e o apetite estiverem comprometidas e quando a falta de prazer pelas realizações da vida se fizer presente.       No entanto, mesmo adoecidas mentalmente existem formas de recuperarmos nossa saúde e ainda, sairmos melhores, após o processo de cura, que envolve toda uma mudança de comportamentos e ideias: um verdadeiro processo de reinvenção que desperta a necessidade de autoconhecimento, e de autoaceitação, inclusive da aceitação de nossos limites. 
   Precisamos fazer as pazes conosco mesmas e com a nossa natureza humana, mas entendendo que antes da paz precisamos travar algumas batalhas em prol da vida e da vida com abundância. 
Te desejo boas lutas para o encontro da sua paz e que a sua paz seja sinônimo de saúde mental. 

 Ellen Maianne S Melo

Comentários

  1. Parabéns pelo precioso texto em nos colocar sob reflexão a respeito de um assunto tão delicado assola grande parte da população mundial. Parabéns As Desmedidas. Parabéns a autora do texto, Ellen Melo.

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