Rivalidade feminina: uma cria do machismo estrutural





 

        O ser humano, como um animal existente na natureza, precisa buscar meios de sobrevivência. Charles Darwin, no livro Origem das Espécies, de 1859, já defendia que passamos por um processo que ele chamou de “seleção natural” para continuar sobrevivendo. Assim, os mais adaptados ao ambiente têm maior chance de sobreviver, uma vez que para ele, é o ambiente que determina quem está apto para permanecer naquele contexto, e quem, na luta da sobrevivência será descartado. Assim, o meio seleciona o indivíduo determinando como ele deve se comportar para poder ser aceito pelo ambiente.
    Muitas de nós preocupadas em nos adequarmos aos ambientes que vivemos, lutamos com garras afiadas para nos adaptarmos. Assim, se a cultura em que vivemos é milenarmente sustentada pelo patriarcado e pelo machismo estrutural – que diz que são os homens os cabeças e as mulheres são os corações – lutamos para nos adequar ao ambiente e sermos aceitas. 
    Nesse meio em que vivemos, que é regido pela ideologia machista, as mulheres que fogem das “regras” sociais – que determinam que a mulher deve ter sua vida devotada ao seu lar e que, por isso, é cuidadora por natureza – e que decidem não se casar, se divorciar ou, não querer parir filhos e filhas são julgadas de “tristes, loucas ou más”, como diz a canção de ”, Francisco el hombre. 
      Por conta do exposto acima, nos ensinam que nosso objetivo central na vida é constituir família. Para tanto, precisamos nos adequara os padrões de heteronormatividade e encontrarmos um homem para casar e ter filhos e filhas e, então, ser a tão esperada dona de casa (pois deste a tenra infância, somos preparadas para tal, pois nos ensinam a gostar de brincar de casinha e boneca).
     Agora já dá para entender por que é tão comum mulheres disputarem entre si, numa competição, às vezes feroz e desleal, a fim de conquistarem o seu espaço de esposa e dona de casa? 
    Nos ensinam a sermos rivais. A nossa cultura e o nosso ambiente alimentam a competição e nos ensinam a nos olharmos como uma ameaça mútua e lutarmos entre nós mesmas para nos adaptarmos ao que esperam de nós. 
    Mas, o que é rivalidade feminina? Podemos dizer que a rivalidade feminina é uma competição nociva, que anula a nossa vivência e nos impossibilita de questionarmos tantas injustiças que sofremos no nosso dia a dia. 
   A rivalidade entre as mulheres é antiga e começa desde muito cedo, ainda na infância. Essa rivalidade, muitas vezes, não é nem notada de tão naturalizada que é. As meninas crescem orientando a atenção para ver a outra mulher observando-a com atenção, comparando seus corpos, cabelos, roupas e objetos que usam. Tanto que é comum entre nós mulheres, nos cumprimentarmos, e logo em seguida, fazermos algum comentário sobre a aparência uma das outras e sobre algo que estamos usando no momento do encontro. 
   Por conta desse condicionamento de estarmos sempre nos observando e nos comparando, costumamos sermos tachadas de falsas e venenosas. Assim, ouvimos muito frases do tipo: “mulher não é amiga de mulher”; "homens são mais amigos entre si”; “as mulheres se arrumam para as outras mulheres” ... 
     Essas falas se estendem para o âmbito cotidiano e profissional e o que percebemos é mulheres dizendo que preferem um chefe homem, que não aceita se subordinar a outra mulher ou, no trânsito, quando veem alguma barbeiragem costumam atribuir imediatamente a prática à mulher, ajudando a construir e disseminar a ideia de incapacidade feminina. 
       No entanto, a maior parte das mulheres nem tem consciência que essas falas reproduzem uma ideia que diz muito do patriarcado. Apenas reproduzimos essa ideologia, graças ao hábito criado pela cultura machista. 
     Essa cultura machista é a responsável pela cultura de rivalidade e desconfiança entre as mulheres, além de ajudar a disseminar comportamentos violentos, pois somos continuamente colocadas umas contra as outras, nos tornando nossos algozes mais comuns. 
     Precisamos entender que não somos falsas, rivais, invejosas ou interesseiras. Isso não faz parte da natureza feminina. Isso é construído socialmente. E esse ciclo de competição nos faz silenciar e de certa forma, colabora com uma sociedade ainda mais machista e opressora, pois cada uma de nós tem uma essência única e seu espaço no tempo. 
     Assim, não concordamos com Darwin, quando nos diz que precisamos nos adaptar ao ambiente para sobreviver, pois mais do que sobreviver, precisamos viver e, só alcançamos um nível de existência evoluído se nos pautarmos na ética da responsabilidade coletiva. 
     Darwin, descreve na sua teoria da evolução sobre a forma de sobrevivência dos animais de uma forma geral, mas lembremos que somos animais racionais, os únicos que podemos mudar o curso da própria natureza das coisas. Somos co-criadoras (es) deste planeta e juntas, juntos e juntxs somos melhores e podemos evoluir enquanto espécie. 
      A sororidade é o que pode salvar a nós mulheres, desta competição desastrosa. Necessitamos daquele olhar mais empático para uma outra mulher, pois afinal, sabemos bem o que ela também enfrenta. 
       A partir da união de nossas forças para alcançar objetivos comuns, podemos ver na outra mulher, uma parceira de luta pelos nossos direitos coletivos. 
      Quando entendermos que precisamos ser menos rígidas conosco e com as crenças as quais nos foram ensinadas, passaremos a nos sentir preenchidas do melhor que há em nós e poderemos oferecer as mãos, umas às outras. 
       A desconstrução é diária e cansativa, mas não podemos parar. E aos poucos vamos transformar essa rivalidade em uma teia de união e apoio constante.
       Conte conosco! 
                                                                                                                              Ellen, Paula e Rozi.

Comentários

  1. Mais uma vez, como sempre, eu parabenizo a esta mulheres corajosas, que não têm medo de mostra a "cara" e falar a verdade. São pontos essenciais citados aqui, que você falam que ninguém é ousado a expressar e você mostram com propriedade e maestria. Sucesso. Obrigado pelo ensinamento de vocês a todos e a todas.

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