As relações humanas são permeadas por conflitos. Isso se deve ao fato de que
nós, seres humanos, temos diferentes compreensões de mundo, histórias de vida e
personalidades que podem se chocar ao longo da convivência.
Mas, mesmo diante
destas vicissitudes é possível existir relações saudáveis, onde, mesmo diante
dos conflitos inerentes a qualquer relação, o respeito e a afirmação da
identidade e autonomia dos indivíduos são mantidas.
No entanto, existem relações
afetivas em que uma das partes é invadida e desconsiderada nas suas aspirações
de individualidade. Isso significa que a outra (o) tem que abrir mão do seu
jeito de ser e fazer, porque é coagida a ser apenas instrumento de
materialização das vontades alheias.
Se você vive algo parecido com o que
descrevemos acima, você pode estar vivendo uma relação abusiva. Nestas, podem
ocorrer abusos e violências de vários níveis: psicológica, física, emocional,
financeira e sexual.
A relação ganha a conotação de abusiva, a partir do momento
em que o indivíduo passa a manipular e controlar sua/seu parceira(o) como por
exemplo, ditando a escolha das roupas, das amizades ou, invadindo a privacidade
da parceira, como espionar o celular, por exemplo.
Segundo um estudo da
Organização das Nações Unidas – ONU (2018), três, dentre cinco mulheres já foram
vítimas de relacionamentos abusivos. Um número alarmantemente alto, mas que
curiosamente é pouco identificável pela vítima. A maioria das mulheres que
sofrem relações abusivas, demoram a perceber os abusos, e geralmente não
descobrem por si próprias. E, além disso, tendem a negar que vivem relações
abusivas e de que sofrem violência, usando justificativas do tipo: “mas, ele
nunca me bateu...”
Mas, mesmo que não haja a violência física, há grande
sofrimento emocional fruto dos abusos que se apresentam de forma sutil. O abuso
muitas vezes, passa despercebido pela própria pessoa abusada, pelos familiares e
amigos porque é confundido como um comportamento aceitável para uma cultura
machista.
“Culturalmente, se é geralmente ensinado aos homens que eles devam ser
os chefes da casa e, que nas constantes negociações vivenciais, as vontades
masculinas devem imperar sobre às femininas”. Ao afirmar isso, Ellen Melo, no
livro Em busca do equilíbrio: entre o feminino e o masculino (p. 120), explica
que a raiz dos relacionamentos abusivos está fincada sob o solo do machismo e do
patriarcado.
Mas, longe de serem comportamentos aceitáveis, as relações que
submetem as pessoas umas às outras, utilizando armas poderosas como: o
silenciamento, a ridicularização, a invasão, a sobrecarga, a reclamação, a
manipulação e a suspeição, são relações doentias que precisam ser rompidas.
E,
as cicatrizes desse tipo de relacionamento perduram por toda a vida e demandam
inclusive, um acompanhamento psicológico, pois o efeito traumático é impactante
e pode levar ao desenvolvimento da ansiedade, depressão e abuso de substâncias,
dentre outros transtornos.
As teias que enredam as pessoas num relacionamento
abusivo/tóxico são de alto nível de complexidade. Assim, se faz necessário uma
rede de apoio para se trabalhar no combate da violência doméstica, evitando a
perpetuação das relações abusivas.
Precisamos de uma política pública mais
efetiva, que leve informação e conscientização, para facilitar a identificação
de relações abusivas. E junto a isso, ações individuais e grupais, como o
movimento “As Desmedidas”, fazem a diferença na promoção da reflexão para a
promoção de relações mais saudáveis e justas.
Juntas, juntos e juntxs somo mais
fortes!
Paula Oliveira, Rozi Franceline e Ellen Melo.
Parabéns, mais uma vez, Às Desmedidas, destacando-se em um texto de alto gabarito no contexto de ajuda Às mulheres, cumprindo verdadeiramente o objetivo deste movimento.
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