A dor do vício de amar










        O amor é um sentimento nobre, pregado como algo que pode existir de mais sublime no ser humano. No entanto, esse artigo mostra uma realidade já conhecida por muitas que nos leem: quando o amor começa a nos machucar e sentimos a dor, mas rejeitamos a cura, porque ela significa perda ou distanciamento do objeto amado. Por isso, preferimos sofrer e insistimos na máxima: “ruim com ele, pior sem ele”. 
       Segundo matéria veiculada no jornal Extra em 03/10/2021, Aprenda a identificar uma pessoa ‘viciada em amor’ : “Uma análise sobre 83 estudos estimou que cerca de 3% da população já tiveram um problema sério com “vício em amor”. Esse número é de cerca de 10% entre jovens adultos”. 
        Mas o que é um vício? 
      Aristóteles, no livro Ética a Nicômaco, diz que vícios são extremos que cometemos na contramão das virtudes. Enquanto virtudes significam equilíbrio entre os opostos,  Aristóteles mostra que existem dois tipos de vícios: os vícios por excesso e os vícios por falta. Assim, tanto podemos pecar nos excessos, quanto nas faltas. Todo vício é prejudicial à natureza humana e à convivência com os nossos pares. 
      Em se tratando do amor, ele pode se tornar um vício, quando desenvolvemos uma dependência emocional por alguém e tendemos a cuidar excessivamente do outro, mesmo que isso implique em negligenciar nossas próprias necessidades. 
       O ser humano precisa de cuidado desde que nasce, pois sem isso não sobrevive. Mas, na medida que cresce, vai desenvolvendo sua autonomia. Entretanto, algumas pessoas adultas, se apegam tanto a outras pessoas, que se sentem incapazes de sobreviverem sem estas. 
        O dependente emocional torna-se um viciado. Se anula de tudo e de todos em prol do outro e não se importa em sofrer os danos os quais esse vício lhe traz. E assim, a pessoa fica tão obstinada no vício de amar quem lhe maltrata, que não se dá conta das consequências emocionais que essa relação traz para sua vida. 
        Essa obsessão não deixa que a mulher tome nenhuma iniciativa senão com a permissão do homem. Ela vive sendo humilhada, maltratada e em total submissão, mas não consegue se desvincular daquela relação. Já tive a oportunidade de perguntar para uma mulher que vive esse tipo de ralação porque ela ainda está com ele? A reposta foi: não consigo me libertar, é mais forte que eu, amo mais ele do que a mim mesma.
      Estas mulheres como a que exemplificamos acima são mulheres que amam demais. Esse é o nome do livro de Robin Norwood que inspirou a criação do Grupo MADA - Mulheres que Amam Demais. MADA é uma irmandade de mulheres cujo objetivo é ajudar mulheres a se recuperar da dependência de relacionamentos destrutivos. 
    É importante nos questionarmos: porque insistir em relacionamentos ruins? 
    Isso não significa que apoiamos o ditado que diz: “apanha porque gosta”. Mas, devemos refletir sobre os motivos que levam alguém a permanecer numa relação que a faz sofrer, a fim de que tomemos consciência das características que as tornam vulneráveis e para que possamos resistir a tais relações.
    Mulheres que na infância não tiveram suas necessidades emocionais satisfeitas ou, que conviveram com pessoas que também sofriam com a dependência emocional, tem tendência de reforçar e repetir comportamentos aprendidos, porque o ser humano prefere seguir padrões conhecidos, mesmo quando esse comportamento não dá bons resultados para nós, podemos continuar repetindo-o, porque é o modelo que temos. Se essas mulheres assistiram por vezes, sua mãe implorar por amor e atenção, tendem a fazer o mesmo em seu relacionamento e ainda é comum que sejam superatenciosas e extremamente prestativas com seus parceiros. 
    Muitas mulheres que amam demais insistem em um relacionamento e em um amor que dói, também por medo de ficar sozinha e por medo de ser abandonada preferem ficar com alguém que não retribui o afeto e fazem de tudo para “ajudar” o homem que estão envolvidas, pois se sentem responsáveis pelo seu sucesso ou fracasso e por isso, assumem para si a culpa e as falhas. 
   Pessoas assim, que amam demais, idealizam que vivem uma relação saudável e fantasiam ignorando a realidade, pois creem que são extremamente necessárias para aquele homem. Por isso, tendem a atrair pessoas problemáticas e a rejeitar pessoas aparentemente, estáveis emocionalmente, pois sentem uma dependência em sofrer. No fundo, essas pessoas têm uma falsa crença de que não merecem ser felizes, porque cresceram acreditando que não eram boas o suficiente. 
  Vale ressaltar que pessoas com boa auto-estima, por mais que tenham vivido e/ou presenciado relacionamentos ruins ou destrutivos, conseguem romper esses padrões e libertar-se deles, caminhando para uma vida afetiva plena e saudável e alcançando o equilíbrio nas relações.
    Para as pessoas que tomaram consciência de que são uma MADA e não conseguem sair da relação de dependência afetiva que machuca, é necessário passar por um tratamento. O tratamento é o mesmo para o caso de pessoas com outros tipos de vícios e tem enfoque similar aos usados nos problemas de farmacodependência, no qual o viciado deve deixar a droga, independentemente de sua vontade.
    A terapia também é importante e o que a terapia tenta incentivar nas pessoas viciadas é basicamente o autocontrole, para que, ainda necessitando da droga, sejam capazes de brigar contra a urgência, a vontade e a necessidade. 
     Quem ama demais, tanto se machuca quanto pode machucar o outro. Lembremos sempre que: Quem ama não sufoca, não maltrata e não anula o outro. Deixa ir, porque a liberdade de ir e vir nos faz escolher ser e pertencer. 

 Força, paz e luz pra vocês! 

 Com o amor virtuoso, 

                                                                       Ellen Melo, Paula Oliveira e Rozileide Francelina

Comentários