Você tem medo de ficar mal falada?





     Ao longo da minha experiência de vida e, imagino que na de vocês também, percebo que é recorrente o temor feminino de ficar mal falada. Mas, o que é ficar mal falada? Será que pesa sobre os homens o mesmo temor que pesa sobre as mulheres? Nesta semana, As desmedidas responde a essas perguntas e leva à reflexão sobre o fato de que nós mulheres sofremos ainda, uma forte repressão da expressão da nossa vitalidade. 
    Ficar mal falada não significa exatamente, que sejamos atingidas por dardos do falatório dos outros e outras, no que concerne a maus julgamentos da nossa conduta em geral. Mas, em nossa cultura, ficar mal falada se refere especificamente, a nossa conduta no âmbito da nossa sexualidade e na expressão da nossa vitalidade. E, para evitar que caiamos na “boca do povo” tentamos nos adequar ao que esperam de nós.
    A sociedade traça para nós, perfis de comportamentos aceitáveis para uma mulher. Patrícia Rocha, no livro Mulheres sob todas as luzes, afirma que: “a mulher ideal deveria ser dócil e frágil para pertencer a um homem”. Por isso, mulheres mais firmes e determinadas são comumente mal-vistas, tanto por homens quanto por mulheres. 
  Desta forma, controlar e reprimir comportamentos mais proativos do feminino é uma bandeira do patriarcado, cuja ideologia é centrada no controle da sexualidade feminina. No meu livro: Em busca do equilíbrio entre o feminino e o masculino, eu abordo essa problemática no capítulo II – o que querem das mulheres – e ressalto que: nós mulheres, “vivemos constantes paradoxos para satisfazer as expectativas de uma sociedade machista. Esperam de nós pureza, mas tudo o que querem é a nossa lascívia, ao mesmo tempo em que podam a manifestação do nosso tesão e as variantes do nosso desejo” (p.35). 
    Já aos homens não pesa a bagagem de ficarem mal falados por conta do seu comportamento proativo e da sua virilidade. Em pesquisa feita por Valeska Zanelo, ao entrevistar 700 pessoas, concluiu-se que o pior xingamento dirigido a uma mulher, ou seja, a forma de comportamento mais ofensiva e repreensiva a uma mulher é ser chamada de “puta” ou “vagadunda”. Isso denota que, dentro de uma cultura machista “o ideal de mulher é a mulher recalcada”. O termo “puto” não é utilizado convencionalmente e, o termo “vagabundo” tem outro sentido para o masculino. Não se refere à proatividade, mas contrariamente, à passividade. 
   Assim, percebemos que os temores femininos e masculino, no que se refere ao conteúdo do mal falatório, se diferem fortemente. Mas, é necessário rompermos essas barreiras que nos enquadram em padrões éticos que sufocam as nossas potencialidades vitais e nos assumirmos enquanto aquilo que somos – mulheres potentes e determinadas -– independente do julgamento que possam fazer do nosso comportamento. 
   Sigamos firmes, leves e soltas...  
                                                                                                                        Ellen Maianne S. Melo

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