A mulher subestimada e interrompida: faces do machismo estrutural




      As conquistas de direitos e espaço que a mulher ocupa nas instituições e na sociedade está permeado de contradições. Ao mesmo tempo que avançamos em direitos, ainda sofremos reveses que nos mostram o quanto alguns setores sociais e algumas pessoas, resistem violentamente ao avanço dos nossos direitos e insistem em repetir velhos padrões machistas e misóginos, que demonstram grande falta de respeito com as mulheres.
    Nesta semana, a Câmara de Vereadores da cidade de Arapiraca foi palco de um show de horrores promovido por um político, que fazendo uso das palavras, agrediu e interrompeu duas funcionárias públicas em usufruto de suas funções. Uma delas, após terminar de expor seus argumentos, foi agredida verbalmente e humilhada por defender suas ideias. Como partes das agressões sofridas, ela ouviu que ela era malvada e que “nem mãe ela devia ser”. Observemos nessa expressão o quanto que algumas pessoas ainda atribuem a pecha de malvadas às mulheres que não são mães, demonstrando uma total falta de respeito com as escolhas femininas e denotando o quanto a sociedade ainda quer controlar o corpo feminino. 
   A outra mulher, ao fazer uso do direito a voz, sofreu manterrupting. Manterrupting é um neologismo criado em 2015, usado em um artigo da revista Time dos Estados Unidos, pela jornalista Jéssica Bennett. Ele surgiu surgiu a partir da junção das palavras em inglês, man e interrrupting, para indicar a interrupção abrupta que uma mulher sofre, executada por um homem, demonstrando uma falta de respeito com a mulher e o conteúdo da sua fala. Esse termo nasceu da necessidade de explicar essas atitudes tão recorrentes que demostram uma cultura machista: nós mulheres, somos continuamente interrompidas por homens enquanto falamos! 
  Um outro termo criado para conceituar casos de machismo que acometem as mulheres foi o mansplaining. O termo mansplaining foi criado a partir da junção da palavra man que significa homem em inglês e splaining que é a forma informal the explain e, significa explicar. O mansplaining acontece quando, de maneira condescendente, um homem explica coisas óbvias à mulher, com tom paternalista, evidenciando uma subestimação da sua inteligência. 
   É interessante notar que o mansplaining raramente acontece em situações ligadas ao cuidado doméstico, como cozinhar, passar, lavar... Mas, quando a mulher se atreve a expandir as barreiras do seu lar, ela encontra resistência, ao tentarem nos mostrar que aquele não é o nosso lugar. Eu por exemplo, já sofri mansplaining quando falava de política com um colega historiador e ele quis me explicar o que era direita e esquerda. É óbvio que eu sabia distinguir entre esses dois lados antagônicos, pois isso é básico para se falar de política em nosso país. 
    O que nos revela situações como essas e tantas outras que nos acontecem recorrentemente? O que vemos é que muitos e muitas ainda pensam que é natural para os homens agredirem as mulheres, interrompendo nossas falas, como um direito natural adquirido, e explicando coisas que já sabemos.              Situações que ocorrem mansplaining e manterrupting, não são exceções nos diversos espaços que a mulher conquistou, como por exemplo, a política. Mesmo tendo aprovada a Lei 14.192/21, que legisla sobre a violência política e a Lei 14.188/21, que trata da violência psicológica, essas conquistas são ainda incipientes, se na prática vemos resistências truculentas. 
   É importante salientar que o caso escandaloso acontecido na Câmera de Vereadores de Arapiraca, contou com a postura condescendente do presidente da Câmara, que ainda, implicitamente, culpou as mulheres por terem sido “incisivas” em suas falas. Como é fácil homens agredirem mulheres, contando com a conivência de seus pares! E às vezes com a conivência de muitas mulheres. Mas, o que os vídeos mostram é uma total falta de respeito a direitos básicos de livre expressão das servidoras em seu exercício. 
    Sabemos que temos muita estrada pela frente para avançarmos no sentido de uma sociedade mais justa e igualitária. Mas, quando vemos cenas como essas que aconteceu em Arapiraca e acontecem recorrentemente, temos a dimensão das enormes forças contra as quais lutamos.
    Mas, como diz a música: "vamos precisar de todo mundo"! Porque a tarefa é hercúlea, mas necessária, se queremos viver num mundo onde as relações sejam mais igualitárias e haja um equilíbrio entre as forças masculinas e femininas.
    Não frearão os avanços das conquistas dos nossos direitos, pois juntas, juntos e juntxs somos mais fortes! 
 Avante! 

 Paula Oliveira e Ellen Melo

Comentários

  1. Parabéns, mais uma vez, ao blog de Asdesmedidas. Cada dia melhor. Transcorrer o assunto dessa semana, requer muita sabedoria e apreço às causas femininas. O assunto dessa semana nos remete a um ponto: o quanto precisamos ficar atentos(as) a pequenas coisas, falas ou tratamentos, que se digam" é normal", mas simultaneamente está ferindo a integridade da mulher. Parabéns, Paula, Joelma e Ellen, por trazerem essas provocações com temas tão estimulantes ao crescimento moral de todos e todas.

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