A palavra traição vem do verbo trair. Mas, este verbo, diferente de vários outros verbos existentes, não consta no dicionário com distintos significados. A palavra traição, no dicionário, tem o seu significado restrito ao próprio ato de trair. Ou seja, o conceito de traição aparece apenas no sentido de “ato ou efeito de trair” ou, como infidelidade ou deslealdade. Sendo assim, não há um aprofundamento maior do sentido do que seria traição.
Isso pode significar que o termo traição tem pouca profundidade semântica.
Isso pode se dar pelo fato de que a traição é pouco falada e pouco escutada. Trair faz parte daquelas ações que são recorrentemente silenciadas e não comentadas, já que a atitude traidora é altamente malvista pela sociedade. A traidora ou o traidor é facilmente identificado como transgressora/o, e trair é algo pejorativo.
Talvez seja pelo motivo elencado acima que pouco se é dito a respeito da traição e daí viria sua pobreza semântica.
Mas, o fato de não se falar muito sobre traição e nem mesmo escrevermos a respeito – para que se amplie o sentido do termo – não significa que a traição seja uma atitude pouco comum entre as pessoas.
Dados de pesquisas demonstram o que na prática, sabemos bem que existe: muita traição. Somos traídas/os e traímos. Segundo uma pesquisa realizada pelo Mosaico Brasil, feita em 2008 – que ouviu 3 mil brasileiros de sete regiões metropolitanas do país: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e Distrito Federal – 30,2% das mulheres e 51% dos homens que foram entrevistadas/os admitem já terem sido infiéis em seus relacionamentos.
Entretanto, diante de número tão alto daquelas/es que admitem já terem traído – se parece ser comum trair – por que se fala tão pouco de traição?
Isso pode se dar também por conta da dor que pode ocasionar a traição.
Muitas/os traídas necessitam se recuperar da dor que provoca, na maioria das vezes, um luto: o luto da traição.
Após a descoberta da traição, é necessário muitas vezes, reelabora-se, uma vez que há neste contexto existencial, não apenas uma perda do outro, mas também uma perda de si.
Há quem possa imaginar que é exagero comparar o impacto da traição, ao impacto da morte. Mas, se entendermos que ressignificações são decorrentes de rupturas de um modelo anterior, chegaremos à conclusão de que as mudanças provenientes após uma traição são necessárias e revolucionárias e instauram uma nova ordem existencial, pois, após uma traição é necessário reinventar-se e ressignificar o sentido do/a outro/a. E quem passou por esse processo pode entender com precisão de detalhes o que estou tentando explanar.
A traição é um grande sinalizador que acende uma luz de alerta vermelha e pontiaguda, no meio da estrada da vida, que sempre nos oferece distintos caminhos e nos mostra que apesar da dor, não podemos paralisar no meio do caminho.
A dor paralisante é só uma reação momentânea, pois não se é possível permanecer parada no meio de uma estrada, entre carros velozes e, permanecer ilesa. É preciso seguir dirigindo, escolhendo o caminho, se escolhendo e, não se encolhendo para caber em espaços inseguros.
Sigamos, entendendo que o movimento é necessário e que, sem existir o passado, o futuro não pode ser alcançado. Então, segue seu sentido, acelera e escolhe seus caminhos ...
Ellen Maianne S. Melo
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