Ser e parecer: será que precisamos sempre corresponder à opinião da/o outra/o?

    Essa semana vamos falar sobre o ser e parecer no programa das Desmedidas. Quando me deparei com a questão, me veio imediatamente o sofrimento que nos impomos para sempre nos encaixarmos em algum ideal de beleza, comportamento, status social ou relacionamento. Essa imposição está caracterizada na relevância que damos ao que a/o outra/o pensa de nós. 
    Mas, a preocupação excessiva tem levado muitas mulheres ao consultório de psicologia e psiquiatria e está muito relacionada com o perfeccionismo patológico que cria metas inalcançáveis e pode gerar uma autopunição severa quando não atingimos o que nos propusemos a fazer. 
    Decorrente da expectativa frustrada é comum o aparecimento de dores e sofrimento, principalmente relacionado a falsa ideia de impotência ou insuficiência. Tomemos como exemplo a busca pelo corpo Ideal. Vivemos numa sociedade que dita padrões rígidos que são largamente reforçados pela mídia e redes sociais. O corpo sarado, magro e musculoso é exaltado como modelo a ser seguido. Essa imposição também é questão de saúde e não podemos negar isso. Mas qual o peso da dos padrões e métricas externas sobre a opinião que tenho sobre mim mesma? Será que eles são determinantes para que eu forme minha autoimagem e queira parecer algo que eu realmente não seja? 
    Até que ponto a opinião dos outros e outras influenciam naquilo que pareço e naquilo que sou? Junto a isso faço outra provocação. O que é um copo ideal? Ele existe? Ou, por que o meu corpo não seria o ideal, já que é o corpo que eu tenho, que produz as minhas ideias? Buscar um corpo com mais saúde é uma meta importante. Mas, provocar o adoecimento e sofrimento por conta de conflitos entre o que sou e o que quero aparentar ser não é saudável. Ser e parecer são lados da mesma moeda, pois compõem aquilo que realmente somos: essência e aparência. A minha identidade flutua nessas duas dimensões. Do ponto de vista psicológico, ser e parecer precisam ser avaliados tendo como pano de fundo, a dor e o sofrimento que causam, pois podemos sofrer sendo, como também, parecendo/querendo ser. E, podemos escolher não sofrer. 
    Somos responsáveis por nossas escolhas e escolhemos o tempo todo. Elas conduzem a nossa existência e impactam na nossa realidade. Portanto, é sábio da nossa parte escolhermos fazer as pazes entre as partes constituintes da nossa identidade: essência e aparência. E entendermos que antes de nos esforçarmos para sempre corresponder à opinião que a/o outra/o tem sobre nós, precisamos cultivar o amor próprio - aquele que acolhe e respeita, ao mesmo tempo, a nossa essência e aparência. 
   Ora, ser e parecer estão fundidos em nós. Ou seja, aparecem e são, juntos e misturados. Não sabemos onde termina um e onde inicia o outro, pois nossa matéria e comportamento nos fazem aparentes, enquanto nossa consciência nos faz existentes - uma vez que é através dela que concebemos o mundo e a nós mesmas/os. 
   Que possamos refletir sobre o que somos e o que parecemos, através desta perspectiva: ser e parecer para que e para quem? 
     Que saibamos escolher sempre por nós e para nós mesmas, pois ninguém vive a vida do outro. 


 Psicóloga Paula Oliveira

Comentários

  1. Perfeito, parabéns pelo tema e pela belíssima abordagem em relação ao mesmo.
    Desejo muitos sucesso às Desmedidas.

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  2. Mais uma discussão de importância DESMEDIDA. Só pela leitura do texto, já nos descobrimos aprisionad@s pela visão alheia.

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